50 Anos de existência

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

As recordações em visita

Visitei esta semana as instalações do Arquivo Distrital de Leiria e a Biblioteca Afonso Lopes Vieira, e como senti orgulho em visualizar encadernações efetuadas na oficina do meu pai. Tantas obras que passaram por inúmeras mãos, tantas obras que passaram pelos mais anónimos amantes do livro. Elas ali estão, intatas, submetidas ao tempo e desgaste. Mas as encadernações perfeitas em couro permitem-lhe uma durabilidade invulgar. reconheci encadernações de 20 anos, 30, 40. Que maravilha! Foi fantástico! Consigo descobrir uma por uma todas aquelas que passaram pelas mãos dos mestres que muito aprecio, todos os pormenores que somente eles sabem produzir. As lombadas completamente "boleadas", termo que utilizamos na encadernação, mas que significa torneadas, o papel pardo de fantasia, alguns dos livros com lombadas a lona e rótulos vermelhos e gravações a ouro perfeitas. A arte em exposição, pensava eu, recordando os longos anos que acompanho de perto o amor aos livros patenteado por esta encadernação, digna dos mais rasgados elogios.
A minha vida foi passada bem perto dos livros, e lembro em jovem as edições de "Tintin" para encadernação, agora reeditadas pela ASA, os fascículos da "Fauna", da "História de Portugal" de José Hermano Saraiva, a "História da Arte", num turbilhão de obras que apaixonam.
Vivi bem de perto os acontecimentos da Biblioteca Municipal na altura, no interior dos Paços do Concelho, em Leiria, o meu avô habitava nos seus claustros. Foi o funcionário mais antigo da Câmara Municipal de Leiria, e mostrava-me o que o meu pai fazia aos livros da nossa querida cidade, desde os "Diários da República" completamente encadernados, como as "Guias de Receita" que eram encadernadas com a particularidade de se serem pregadas e não cozidas. Ainda hoje existem essas encadernações. Faço votos que este património valioso, cinquentenário, ainda permaneça no estado em que estas encadernações merecem. Tantas recordações, tantas viagens, tantas emoções!
Como tudo era mais bonito encadernado, embelezando cada Departamento! Agora notamos mais o vazio dos gabinetes, onde a luz natural que estas encadernações emprestavam aos mesmos era única!

Carlos Simões

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